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Pesquisa de opinião paroquial como instrumento de novas possibilidades

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Além do meu trabalho na minha área de formação, tenho algumas outras atividades que fazem parte da minha vida, e as faço com muito gosto e orgulho. Uma delas é o trabalho pastoral de comunicação para a Igreja Católica. Esse trabalho, obviamente, é voluntário. Sou coordenador da Pastoral da Comunicação do Santuário da Divina Misericórdia, em Vila Valqueire, e membro da coordenação vicarial do Vicariato Suburbano. A quem desconhece o significado dos termos, terei imenso prazer em explicar em novo post ou nos comentários, mas gostaria de manter o foco no tema central. E esta introdução já foi suficiente.

O contexto

Trabalho ativamente em minha comunidade há 10 anos, pelo menos. Desde o meu Crisma, que é o sacramento da confirmação, um segundo batismo escolhido e assumido por vontade própria, no final do ano de 2003. De lá pra cá, trabalhei em encontros de jovens, na própria equipe do Crisma, tocando nas missas e também dando algumas palestras e testemunhos para jovens e adultos. Desde 2012 estou como coordenador da Pastoral da Comunicação. Em 10 anos muita coisa mudou. O que eram 10 anos no século XX e o que são 10 anos no século XXI... antes, pouca coisa mudava. Hoje, se vacilarmos, ficamos completamente “out” da nova realidade. Não sabe o que quis dizer com isso? Mal sinal... olha aí o sintoma dos 10 anos.

No mesmo ano de 2012, quando assumi a coordenação da pastoral da comunicação de minha paróquia, terminava também minha faculdade de Comunicação Social. Ao longo da vida acadêmica, me deparei com diversos questionamentos e reflexões sobre os rumos de nossa sociedade impactada pelos meios de comunicação. E sempre estendi a reflexão para o meu contexto paroquial.

Realmente, não é simples compreender o homem contemporâneo. Inquieto, ansioso e instável, o homem do nosso tempo vive num mundo de excesso de informações que muitas vezes não consegue processar. E aí entra uma questão chave: o filtro. É preciso que saibamos filtrar todo o volume que recebemos de informação, para que consigamos dar sentido a tudo aquilo que absorvemos. O problema é que muitos de nós, ou todos nós em diferentes momentos, não estamos devidamente preparados pra isso. Sugiro que você assista esse vídeo que mostra, na perspectiva da juventude, toda essa evolução do homem contemporâneo.

O problema

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Consequência dessa nova configuração global e do relacionamento humano, a religião perdeu espaço na vida das pessoas por causas diversas e não apenas esta, mas não vou me aprofundar nisso. Fato é que esta mudança de comportamento e pensamento afeta diretamente a participação das pessoas na vida comunitária paroquial. Muitas igrejas possuem missas cheias (ou nem tanto), mas as atividades paroquiais ficam restritas a alguns paroquianos já de caminhada. Normalmente os mesmos, com alguns novos.

Digo isso por experiência em minha paróquia e pela partilha de situações semelhantes com amigos de outras paróquias. A cada ano isso se torna mais evidente. As missas no Santuário, na verdade antes mesmo de ser reconhecido como tal, contava com a presença de muitos mais jovens que hoje. Os movimentos também. Pude acompanhar a mesma regressão no Encontro de Casais, um dos movimentos mais fortes na paróquia há alguns anos, e na pastoral familiar. As pessoas dizem estar com cada vez menos tempo. São os filhos na faculdade, ou na creche, ou na escola. É o curso de inglês, é o trabalho, é a avó, são as compras de mês, é o futebol. De fato, temos cada vez mais atividades e compromissos e as vezes fica muito difícil conciliar. O estresse de cidade grande, o cansaço físico, mental e emocional que passamos, nos tira qualquer disposição de realizar atividades extras na Igreja. O curioso é que sempre arrumamos tempo na agenda para encaixar alguma atividade nova. Mas para a igreja é mais difícil. Por que será?

Essa é uma pergunta que atormenta padres, paroquianos e outras pessoas que, de uma forma ou outra, participam na igreja. Por que será que as missas estão esvaziando? Por que será que é tão difícil conseguir pessoas novas para trabalhar? Por que será que as pastorais estão atrofiando? Por que será que o jovem está saindo da igreja? Por que será que o número de casamentos diminui? Por que será que se celebram menos batismos e primeiras eucaristias? E por aí vai.... isso sem contar perguntas mais existenciais, que afetam qualquer pessoa do nosso tempo, independente de vida paroquial ou não.

E em meio a tantas perguntas sem respostas claras ou objetivas, ansiedade e frustração começam a surgir em nossa vida paroquial. Daí muitas pessoas inconformadas com o cenário atual, que amam verdadeiramente a igreja, que estão sempre presentes dedicando seu tempo e suor à paróquia, começam a pensar em alternativas para mudar este quadro. Normalmente são aquelas de sempre que participam das decisões da paróquia. Surgem inúmeras iniciativas que se logo se frustram porque poucos participam ou a capacidade de retenção de pessoas mínima ou inexistente. Consequência: as perguntas continuam, a ansiedade e frustração aumentam.

Um vislumbre para respostas

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Normalmente a busca por solução para os problemas listados acima parte do olhar e da reflexão de quem está dentro, ou seja, do padre ou do paroquiano. Como podemos tornar a participação na missa mais intensa? O que podemos fazer para o jovem participar mais na igreja? E aí a resposta parte de quem está dentro. Mas será que se perguntássemos aos principais interessados, ou seja, as pessoas que vão se beneficiar de nossas ideias, não teríamos maior chance de sucesso?

Bem, este é o vislumbre para respostas que podem nos levar ao caminho de soluções. A pesquisa de opinião é um recurso muito utilizado por grandes empresas antes do lançamento de um novo produto ou para aperfeiçoamento de produtos já existentes. Entender como o consumidor se relaciona com a marca e o produto, seus hábitos e experiências de consumo, o que ele mais gosta e o que menos gosta é o primeiro passo para a empresa começar a se estruturar para fazer mudanças mais substanciais no produto.

Partindo da mesma lógica, talvez uma boa maneira para se buscar novas soluções para nossas atividades paroquiais seja uma pesquisa de opinião com os diversos públicos da paróquia:

  • Núcleo paroquial: grupo de coordenadores que está mais diretamente envolvido nas decisões estruturais da paróquia;
  • Comprometidos: coordenadores pastorais, grupos e movimentos que exercem influência na vida paroquial;
  • Comunidade: todas as pessoas que participam/trabalham nos grupos acima ou em atividades diversas, como encontros, festas, retiros, etc;
  • Paroquianos: todas as pessoas que participam de missas, frequentam festas e outros eventos mas que não se envolvem mais intimamente na vida em comunidade.
  • Povo: pessoas do bairro, vizinhos, visitantes, pedestres, etc.

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Esquema retirado da apresentação Desvendando a Pascom, de Marco Cazumba.

Há uma boa chance de que, com base nas respostas obtidas na entrevista com estes públicos, as soluções sejam mais assertivas. Mas como estruturar uma pesquisa/entrevista dessas?

Bom, nessa questão eu espero que possamos desenvolver juntos o caminho. Em uma pesquisa rápida pelo Google, encontrei pouca coisa relacionada a pesquisa de opinião específica para paróquias. Há alguns posts sobre resultados obtidos em pesquisas, mas nada sobre o método utilizado ou o próprio formulário em si. Conversei também brevemente com alguns amigos de pascom que revelaram já ter realizado algo nesse sentido. Convido estes também a participar da reflexão.

O que penso em propor para a elaboração do formulário de pesquisa para minha paróquia tem base em alguns temas macro que considero relevantes:

  • Atividades pastorais: as pessoas conhecem as pastorais? Sabem o que realizam? Já participaram? Não? Por quê? Participaria? Qual? Etc...
  • Missa:
    • Som: o som das missas é satisfatório/compreensível? Você percebe relação entre as músicas tocadas e as leituras ou tempo litúrgico? Os grupos musicais agradam?
    • Altar: A disposição de pessoas e objetos no altar privilegia ou atrapalha a atenção na celebração? Leitores e salmistas privilegiam o entendimento das leituras e salmos? A iluminação do altar é satisfatória?
    • Entendimento: Prefere acompanhar a liturgia por folheto ou datashow? Você compreende todo o rito eucarístico? As homilias auxiliam sua compreensão das leituras? Você entende a letra das músicas cantadas?
    • Acomodações: o clima dentro da Igreja é agradável? A conservação dos bancos é adequada? A higiene dentro da igreja é satisfatória?
    • Participação: Você considera sua participação na missa ativa ou não? A participação de outras pessoas da comunidade te atrapalha ou te contagia? Você considera a participação da comunidade contagiante? Você prefere uma participação mais efusiva ou mais contemplativa?
  • Comunicação: você fica sabendo dos eventos paroquiais com antecedência ou só depois que acontecem? Quais os meios de comunicação paroquial você conhece? Qual seu meio de comunicação preferido? Qual você nunca utilizou?
  • Acessibilidade: Você possui alguma deficiência motora ou sensorial? O acesso à igreja é adequado? O acesso aos sanitários é adequado? Como você vem para a Igreja, a pé, carro, transporte público? A sinalização indicativa para chegar ao Santuário é adequada?

É importante que se definam perguntas genéricas que contemplem os principais assuntos que mereçam atenção dos objetivos da pesquisa. Perguntas muito específicas direcionam as respostas dos entrevistados. A menos que seja esta sua intenção, é bom evitar. Nomes não são necessários na pesquisa, mas é importante que você tenha perguntas que definam o perfil do entrevistado. É provável que as respostas de paroquianos apresentem um padrão diferente das repostas do povo. Cada público se relaciona de uma maneira com a igreja e tem um olhar diferenciado sobre cada um dos aspectos pesquisados.

Procure gerar um relatório com os dados mais relevantes – aqueles de interesse estratégico para a paróquia e aqueles que apresentaram índices representativos para uma discussão mais minuciosa - ao final das entrevistas. Agrupe as respostas por faixa etária, público-alvo, localidade ou outro critério que você julgue importante para que você tenha uma melhor compreensão no padrão de respostas. Por fim, apresente os resultados da pesquisa em conselho ou assembleia paroquial, incentivando o diálogo entre as pastorais, grupos e movimentos para que encontrem juntos soluções para os principais problemas.

Gostaria de ressaltar que não sou um especialista no assunto e todo esse texto não tem nenhum embasamento empírico ou teórico fundamentado. Ele é meramente uma tentativa de elucidar e embasar algumas possibilidades de venho refletindo ao longo dos anos, resultado de minha vivência profissional, paroquial e pessoal. Este é o passo inicial para o que pretendo realizar no Santuário pela pastoral da comunicação. Espero que, compartilhando estes pensamentos, possamos juntos aprimorar estas ideias e descobrir novas pessoas que possam contribuir com vivências práticas de iniciativas como esta.

O que você acha? Já realizou algo assim em sua comunidade? Discorda de algum ponto apresentado? Deixe sua opinião e sua contribuição!

Última modificação em Segunda, 25 Mai 2015 23:52
Eugênio Telles

Eugênio Telles